Anatomia

O semilunar é o osso central da primeira fileira do carpo. Já o escafóide, apesar de fazer parte da primeira fileira, faz a ponte entre as duas.

O ligamento escafolunar é formado por 3 partes principais. A palmar ou volar, a interóssea (que cobre todo espaço entre a volar e a dorsal) e a dorsal, mais forte e importante.

Biomecânica

O movimento para execução das funções do dia-a-dia é o de “lançar dardos” (dart-throwing movement). Ele acontece com extensão e desvio radial do punho para pegarmos os objetos e fazermos força e flexão associada ao desvio ulnar para atacarmos o que queremos pegar ou para jogar ou soltar um objeto. Para que isso aconteça, o ligamento escafolunar permite que o escafóide estenda com o desvio ulnar e flexão com o desvio radial.

História e Exame físico

Os pacientes reclamam de dor no punho, região central, após trauma com a mão em extensão. Podem relatar como “pulso aberto”, perda de força ou sintoma de estalido, click no punho ou sensação de instabilidade.

Ao exame, o paciente apresenta dor dorsal 1 cm distal ao tubérculo de Lister. Pode ter dor à compressão lateral na tabaqueira anatômica ou à compressão palmar do tubérculo do escafóide.

O teste especial de Watson demonstra a instabilidade, dor e estalido, simulando uma subluxação dorsal do escafóide.

Exames complementares

Inicialmente, solicitamos algumas radiografias do punho de frente (AP), com mão aberta e outra com a mão fechada, fazendo força. Nessa incidência, vamos observar se há aumento do espaço entre o escafóide e o semilunar, que deve ser menor do que 2 mm. Entre 2-5 mm o aumento da distância é sugestivo de lesão do ligamento escafossemilunar, acima de 5 mm é patognomônico (certeza) da lesão do ligamento.

Na radiografia de perfil, vamos medir o ângulo entre os 2 ossos: entre 30-60 graus, consideramos o arranjo normal. Acima de 60 e, principalmente, acima de 80 graus, temos a suspeita da lesão ligamentar.

A ressonância magnética ajuda a identificar quais partes do ligamento estão rompidas e se há artrose inicial associada à lesão.

Estágios

Podemos dividir as lesões ligamentares em pré-dinâmicas (quando nem mesmo a radiografia com a mão fechada, fazendo força, é positiva), dinâmicas (quando há abertura do espaço escafolunar quando o paciente realiza força) e estática (quando vemos a lesão, mesmo sem que o paciente realize força). Se podemos corrigir a deformidade e unir os ossos, o tratamento também difere de quando não se consegue ou há degeneração articular.

Tratamento

Será dirigido de acordo com o tipo de lesão, tempo decorrido, mobilidade passiva e ativa do paciente e presença ou não de artrose.

Nos casos agudos, devemos fazer o reparo da lesão e aguardar entre 6-8 semanas até a sua cicatrização.

Quando o reparo não é mais possível, devemos reconstruir o ligamento. Há inúmeras técnicas disponíveis para isso, sendo que a minha preferida é a reconstrução via artroscópica, uma vez que permite melhor mobilidade ao final do tratamento do que as técnicas abertas, com a mesma taxa de sucesso.

Quando há degeneração articular, não há mais a indicação de reconstruir o ligamento (exceto em casos específicos). Se não houver comprometimento da articulação da cabeça do capitato e da fossa do semilunar no rádio, é possível indicar a ressecção da fileira proximal do carpo, enquanto que devemos indicar artrodeses parciais ou total do punho, se estas articulações estiverem artrósicas.

Dor no punho após evento traumático que não melhora em poucos dias merece avaliação de médico especialista em cirurgia da mão e meticulosa investigação.