A lesão do ligamento colateral ulnar da metacarpofalângica do polegar, com interposição da aponeurose do adutor do polegar é conhecida como lesão de Stener (figura 1).
Uma vez que sem este ligamento o paciente perde a estabilidade e força para “pinça” com o polegar, esta é uma lesão muito importante para o cirurgião da mão.
Mas, por que a maioria das lesões ligamentares dos dedos cicatriza após algum tempo de imobilização e esta precisa de cirurgia?
Justamente porque a interposição da aponeurose do adutor do polegar entre a falange proximal do polegar e o ligamento colateral ulnar previne a cicatrização do ligamento sobre o osso, pela falta de contato entre eles (Figura 1).
O trauma acontece com uma queda com a mão espalmada (aberta) com grande abertura (abdução) do polegar. Apesar de vivermos em um país tropical, é raro que eu não opere ao menos um paciente por lesão após queda de snowboard ou ski durante as férias de janeiro e julho (inverno no hemisfério norte e sul). Esportes com contato intenso (como lutas marciais), com tacos e raquetes têm maior risco.
O paciente apresenta instabilidade da articulação metacarpofalângica, com abertura medial no teste de “stress”. Alguns pacientes conseguem disfarçar esta instabilidade com auxílio da musculatura. Portanto, deve-se estar atento à possibilidade de exame “falso negativo” no consultório em pacientes fortes ou com dor intensa. Um bloqueio com anestésico local pode ajudar bastante nestes casos.
O exame padrão ouro para o diagnóstico destas lesões é a Ressonância Magnética. Ela irá demonstrar a interposição da aponeurose do adutor do polegar entre o ligamento e a área onde ele deveria estar no osso (Figura 2).
O tratamento deve ser realizado o quanto antes. A cirurgia consiste em reinserir o ligamento em seu local de inserção.
Para tanto, necessita-se abrir a aponeurose do adutor do polegar, identificar o local de onde o ligamento foi avulsionado, cruentizá-lo e reinserir o ligamento (com uma âncora* ou pontos transósseos). Após a reinserção do ligamento colateral ulnar, fecha-se a aponeurose do adutor.
No pós-operatório, o paciente permanece imobilizado por 6 semanas, sendo que, nas primeiras 3, o rigor no uso da imobilização é maior. Após este mês e meio, o paciente está liberado para retorno às atividades físicas. Casos especiais devem ser avaliados individualmente para retorno mais precoce a algumas atividades.
Caso a lesão não seja diagnosticada precocemente e o ligamento não seja mais viável, poderemos abrir mão de procedimentos de reconstrução com enxerto de tendão.
Se o tempo decorrido for longo o suficiente para haver artrose (desgaste articular) está indicada a artrodese da articulação metacarpofalângica.
Em algumas profissões ou hobbies pode acontecer lesões crônicas deste ligamento.
Também pode acontecer uma fratura-avulsão por tração deste ligamento. Nestes casos, quando há afastamento maior do que 2 mm dos fragmentos ou o fragmento avulsionado é maior do que ¼ da articulação, está indicada a cirurgia.
O resultado final costuma ser muito bom, contudo, há possibilidade de ruptura novamente, principalmente nos casos em que a reabilitação não foi bem executada ou que não se respeitou o prazo de cicatrização do ligamento.
Durante a consulta, posso mostrar um vídeo de como se faz o tratamento cirúrgico e fotos de casos reais demonstrando o ligamento afastado do osso pela interposição da aponeurose, caso seja desejo do paciente.
*âncora é o nome de um dispositivo que funciona como um parafuso que entra dentro do osso e na sua extremidade externa tem fios de sutura forte para aproximar estruturas como os ligamentos (ou tendões) e os ossos.