Pode ser uma transferência regional, como ocorre com o músculo latíssimo do dorso (grande dorsal) quando transferido para ganho de flexão do cotovelo. Ou pode ser uma transferência muscular funcional microcirúrgica, quando, por exemplo, realizamos a retirada do músculo grácil na coxa para ganho de flexão do cotovelo ou flexão ou extensão do punho e dedos.

A primeira transferência funcional do músculo grácil foi realizada para um paciente com lesão do plexo braquial, para que recuperasse a flexão do cotovelo e esta é, ainda hoje, a sua principal indicação.

Quais pacientes podem se beneficiar da transferência muscular funcional?

As transferências musculares funcionais podem ser realizadas para ganho de flexão do cotovelo para pacientes com lesão:

  • Do tronco superior do plexo braquial que não sejam eletivos para procedimento de Oberlin;
  • Total do plexo braquial;
  • Do músculo bíceps e braquial;
  • Crônica do nervo musculocutâneo.

As transferências musculares funcionais também podem ser realizadas para ganho de flexão ou extensão do cotovelo para pacientes com:

  • Sequela de Síndrome de Volkmann;
  • Lesão do plexo braquial com perda da flexão ou extensão dos dedos;
  • Lesão crônica do nervo mediano ou radial;
  • Traumas graves dos músculos flexores ou extensores.

Quais os pré-requisitos para a transferência muscular funcional?

Nas transferências musculares microcirúrgicas devemos lembrar que, além dos vasos receptores (artéria e veia compatíveis com o músculo grácil ou latíssimo do dorso), devemos escolher bem o nervo receptor. Este nervo irá “reanimar” o músculo transferido.

Os músculos mais utilizados para serem transferidos são o grácil e o latíssimo do dorso, como citado anteriormente.

O músculo grácil fica na região medial da coxa. Tanto sua irrigação quanto inervação entram na porção proximal do músculo. Isto favorece a transferência. Este músculo também tem uma capacidade contrátil que favorece a excursão (ver no texto de transferências tendíneas).

Casos que mais comumente se beneficiam da transferência muscular funcional

Pacientes com lesão parcial do plexo braquial (adultos ou crianças) quando iniciam o tratamento após o período em que podemos fazer transferências nervosas, como a cirurgia de Oberlin, para ganho de flexão do cotovelo.

Pacientes com lesão completa do plexo braquial. Após estabilização do ombro (por transferência nervosa ou artrodese), podemos realizar a cirurgia para ganho de flexão do cotovelo e para ganho de flexão dos dedos, com possibilidade de “dupla transferência”, um músculo grácil para cada função.*

Pacientes com Síndrome de Volkmann, com “necrose e substituição por gordura” da musculatura flexora. Pode-se usar uma transferência para flexão e outra para extensão dos dedos.*

Fica algum déficit na área doadora (de onde retiramos o músculo)?

Quando se retira o músculo latíssimo do dorso (grande dorsal), a cicatriz costuma ficar “alargada”, sendo queixa estética de alguns pacientes. Há perda parcial e força para rotação medial do ombro e adução do braço, que não incomodam o paciente, a não ser que seja atleta ou tenha alguma profissão que exija estes movimentos. Contudo, o ganho funcional é muito maior do que a perda.

Ao retirar o músculo grácil, a cicatriz costuma ficar esteticamente boa, uma vez que fica na parte medial (entre os membros inferiores) na coxa. O déficit funcional é mínimo.

A função do especialista é estar preparado para oferecer opções de tratamento para seus pacientes. As transferências musculares funcionais são os procedimentos tecnicamente mais difíceis e trabalhosos para o Cirurgião da Mão ou para quem faz microcirurgia reconstrutiva.

Os resultados estão longe de ser milagrosos, mas melhoram substancialmente a função e qualidade de vida da maioria dos pacientes submetidos a esse procedimento. Procure um médico competente para realizar seu tratamento. Sou o Dr. Diego Falcochio, ortopedista de mão e microcirurgião. Entre em contato e agende sua consulta!

*Importante lembrar o princípio: “um músculo, uma função”.